A Noite Dividida


Instalação Artística para a Noite Branca Braga

Colaboração com Miguel Santos

Braga, 2019


Fotografias 1, 2, 3, 4: André C. Macedo / Noite Branca Braga 2019
1. A Noite Dividida invoca um livro de poemas com o mesmo título, escrito por Sebastião Alba. Nascido em Braga, Sebastião Alba ou Dinis Gonçalves morreu aos 60 anos, atropelado nessa mesma cidade. Os seus papéis, fragmentos de um nomadismo urbano que tornam visível uma outra cidade, à margem dos espaços de representação do poder da cidade histórica. Uma cidade marginal, periférica, fragmentada. Uma cidade dividida.

2. O dispositivo é uma estrutura plissada que torna visível esta divisão, através de um plano que multiplica os pontos de vista, as perspectivas. As imagens nela aplicadas, são percepcionadas diferentemente, dependendo da posição do espectador. As suas faces, ora voltadas sobre si, numa relação de proximidade, ora em sentido divergente, sugerem pontos de encontro e de ruptura, respectivamente.

3. O jardim (do Museu dos Biscaínhos), apesar de ser um espaço natural, nada tem de casual ou aleatório. Ele é o simulacro da natureza e, portanto, o espaço de representação por excelência. A dicotomia entre o natural e o artificial ganha o seu apogeu nestes lugares, originando o maior paradoxo: o jardim enquanto espaço aparentemente natural na cidade é, na verdade, um lugar mais artificial que a própria cidade. A cidade à margem e periférica torna-se mais orgânica do que o próprio jardim. A sua expansão fragmentada dá origem a espaços vivos, que fogem ao controlo contínuo a que o jardim é sujeito.

4. Torna-se ponto fulcral desta instalação a possibilidade de mostrar uma outra cidade, um outro modo de a olhar, à maneira como ela se constrói e se representa. Sobre o jardim barroco são inseridas estruturas plissadas cujo desdobramento das imagens, ora reflecte aquilo que escolhemos como a imagem de virtuosismo humano ora convoca o que está na periferia. Através dos reflexos de um mesmo plano, a Noite Dividida procura tornar visível o confronto do que decidimos dever ser a nossa representação com aquilo que não mostramos, o que fica à margem. E é neste confronto, sobre a linha desse plano que conseguimos indagar aquilo que nos representa, e aquilo que está por vir.
 
1. A Noite Dividida (The Divided Night) borrows its title from a poetry book authored by Sebastião Alba. Born in Braga, Sebastião Alba or Dinis Gonçalves died at the age of 60, run over in his birth city. His notes, fragments of an urban nomadism that shine a light on another city, on the fringes of the spaces normally representing the power of the historic city. A marginal, peripheral, fragmented city. A divided city.

2. The device is a pleated structure that enhances this division, through a plane multiplying the viewpoints. The images applied to it are perceived differently depending on the position of the viewer. Their surfaces, whether turned on each other in a close relationship, or turned in opposite directions, suggest meeting points and rupture points, respectively.

3. The Garden at Biscaínhos Museum, despite being a natural space, is anything but casual or randomly laid out. Like any garden, it is a simulation of nature and therefore a representational space par excellence. The dichotomy between natural and artificial originates in these places, casting light on the biggest paradox: the garden as a seemingly natural space in the city is actually more artificial than the city itself. On the other hand, the marginal and peripheral city becomes more organic than the Garden itself. Its fragmented expansion creates living spaces that go beyond the continuous control of the Garden.

4. This installation aims to show another city and a different outlook on it, how it is built and represented. On the Baroque garden the pleated structures reflect what we choose as the image of human virtuosity, whilst summoning the city’s periphery at a simultaneous pace. Through the reflections of the same plane, a Noite Dividida seeks to enlighten the confrontation of what we chose as our representation together with what we chose not to (the outskirts). And it is within that confrontation that we are able to question what represents us, and what is yet to come.





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